Coletivas têm sido pautadas por formalidade excessiva; perguntas feitas para o treinador deveriam ser respondidas por ele
Uma das coisas que mais incomodam um jornalista é quando ele pergunta algo para alguém e outro responde. E isso ocorreu na convocação de Tite, nesta sexta-feira (13), para os próximos jogos das Eliminatórias.
Movida por termos modernos, que muitas vezes não esclarecem, a coletiva mostrou também que a questão da “multidisciplinaridade”, se mal usada, cai no vazio.
Se o jornalista Wellington Campos, da rádio Itatiaia, perguntou para Tite sobre a questão do dirigente da CBF, Gustavo Feijó, ser o elo da entidade com a comissão técnica, acredito que não seja indicado o coordenador Juninho definir quem irá responder
Cada um tem sua função, mas, em coletiva, o direito do jornalista escolher deve ser ilanienável. Nem a mais organizada entrevista deveria ter o direito de ultrapassar essa máxima.
A pergunta foi para Tite. Mas vivemos mesmo tempos de polarização, que distorce situações. E que, neste formato imposto de entrevista, não dá ao jornalista a chance de retrucar.
Jornalistas, muitas vezes, realmente são exagerados e até maliciosos. Esta é uma das pontas da polarização.
Na outra, estão os profissionais de clubes e seleções, muitos deles desconfiados, que deixam de ir a fundo em questões importantes. Parecem, desta forma, ter algo a esconder.
A solução é um meio-termo. Nem um nem outro lado polarizado.
Quando Juninho assumiu a palavra, a impressão é de que estava querendo “disciplinar” a entrevista, mostrando para o jornalista a quem ele deve se dirigir, insinuando, veladamente, que este iria expor Tite com a pergunta.
Qual o inconveniente de Tite mesmo responder? Como é o diálogo dele com Gustavo Feijó? Tite, na minha opinião o melhor treinador do Brasil, de longe, teria todas as condições de falar algo a respeito. Eu gostaria de saber e não ficou claro.
Essa disputa silenciosa com a imprensa, neste sentido, é um retrocesso. Em meio a muitas coisas que melhoraram muito.
Mas, se a informação está mais disseminada, a fonte da informação está muito menos acessível.
Antes, as coletivas eram mais abertas, menos formais, mais esclarecedoras.
César Sampaio, mais um que assumiu a palavra sem ter sido perguntado, também se pautou pelo discurso formal para explicar por que Gérson não foi convocado.
Ele argumentou que o jogador atuou apenas cinco vezes pelo Olympique. Mas, há apenas um mês, Gérson estava no Flamengo, jogando bem e não sendo convocado, após uma enorme sequência de partidas.
Se fosse em outros tempos, quando jornalistas e entrevistados conversavam diretamente nos corredores do vestiário, talvez a resposta ficasse mais clara.
Agora, ficam muitas dúvidas, por trás dessas coletivas formais do futebol brasileiro. O que parece, para além do tom professoral, é que Tite e a comissão técnica não gostam muito do estilo de Gérson para a seleção brasileira.
Não haveria problema nenhum em deixar isso claro. Mas, neste universo de desconfianças e formalidades que se tornou o futebol, isso não tem sido mais possível.
- NOSSO MUNDO | Eugenio Goussinsky, do R7