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A revolução crespa e cacheada

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Durante toda história do Brasil, milhares de mulheres negras tiveram sua aparência questionada quanto sua beleza, isso demonstra todo o racismo que está imbuído em nossa sociedade. E viver na pele de mulheres negras nunca foi uma tarefa confortável nesse país. Claro que isso ocorre pela herança escravocrata que perpetua até dias atuais.

Por muito tempo, a mulher negra brasileira foi estereotipada, objetificada, molestada e violentada por conta da sua imagem, “morena da cor do pecado”, associando a mulher negra à sensualidade exacerbada. Traços ancestrais sempre foram motivo de violência retórica por parte da sociedade como é o caso do termo racista “cabelo de bombril”, comparando o cabelo crespo que é característica do povo africano a uma marca de esponja de aço.

Toda essa violência sempre foi tratada genericamente como algo apenas retórico, no entanto, a violência vivida e legitimada por um discurso de ódio e racista legitimado pelos meios de comunicação, é representada pela ausência do povo negro em novelas, por exemplo, que sempre deslegitimou a presença dos negros e negras negando representatividade a mais de 60% dos brasileiros e brasileiras.

Os programas de humor sempre usaram o racismo em piadas e as características das mulheres negras por muito tempo foi motivo de chacotas, no mínimo, violentas contra as mulheres negras, sempre representando-as como feias e representar toda uma comunidade como feia é também representar como indesejada, portanto, não tem “passabilidade” social.

Na última década, com o advento das tecnologias e o crescente acesso ao conhecimento para as mulheres negras advindo das cotas raciais, mulheres negras organizam uma verdadeira revolução sobre a discussão racial e denuncia a falta de representatividade que, por consequência, demonstra  o racismo instituído que causa a negação de acesso a pessoas negra, discutindo como a “branquitude” usou e ainda usa as características físicas como simbologia para negar a legitimidade do povo negro ao acesso à plenitude dos seus direitos.

A primeira impressão pode causar a falsa ideia de que a presença de pessoas assumindo seus fios crespos é apenas uma questão de modismo, mas, não se enganem, o movimento que causou a volta do orgulho crespo veio para ficar, pois ele trouxe discussões muito contundentes sobre de onde veio o ódio aos cabelos naturais e o porquê das mulheres negras terem sido as protagonistas desse movimento que revolucionou a indústria cosméticas na última década.

O comportamento da indústria cosmética brasileira até a década passada, nunca levou em consideração a diversidade étnico racial brasileira, todos os produtos lançados sempre buscaram atender a um padrão branco, ou seja, produtos para cabelos lisos ou alisados, o que fez com que gerações de mulheres negras escondessem essa característica físicas por meio do alisamento dos cabelos, pois, ser crespa era ser feia, defeito a ser corrigido.

Atualmente, é comum mulheres negras adaptarem o uso do seu cabelo natural ou a utilização de penteados protetores como as tranças box braids, twist, e outras, demonstrando a crescente demanda de produtos destinados a esse público, bem como o debate mais qualificado quanto à beleza natural do povo negro.


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