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Nível de emissões de gases de efeito estufa no Brasil em 2020 é o maior desde 2006, aponta relatório

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Nona edição do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima aponta que Brasil chegará à COP 26 com tendência de alta e desafios para implementar a redução prometida.

O Brasil continua a aumentar o total de gás carbônico (CO2) emitido para a atmosfera, mesmo tendo assumido compromissos de redução há mais de uma década, de acordo com mais recente edição do “Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima”, o SEEG.

Os dados sobre o ano de 2020 mostram que o Brasil está mantendo, desde 2010, a tendência de alta nas emissões, na contramão dos compromissos firmados para frear o aumento da temperatura global causada pelos gases de efeito estufa.

“A gente tem um padrão ao longo do tempo das emissões. Olhando de 1990 a 2020, a gente tem um período de crescimento das emissões, que vai de 1990 a 2003, 2004. Depois um período de queda expressiva das emissões, entre 2004 e 2010. E depois a gente volta ao aumento das emissões, que teve um salto importante entre 2019 e 2020. Isso fez com que chegássemos a um valor de emissões que é maior desde 2006. Se comparar com 2010, foi um aumento de 23% das emissões“, explica Tasso Azevedo, coordenador do SEEG.

Veja os principais destaques do SEEG 2020:

  • Em 2020, em plena pandemia, o aumento das emissões brutas de gases de efeito estufa no Brasil foi de 9,5%; nas emissões globais, a queda foi de quase 7%;
  • Nível de emissões verificado no Brasil em 2020 é o maior desde o ano de 2006; aumento do desmate na Amazônia e no Cerrado são as principais justificativas;
  • Desde 2010, o país elevou em 23,2% a quantidade de gases de efeito estufa que despeja na atmosfera todos os anos;
  • Dos cinco setores da economia que respondem pela virtual totalidade das emissões: três tiveram alta (agropecuária, resíduos e mudança de uso da terra), um permaneceu estável (processos industriais) e um teve queda (energia).

A emissão de gases de efeito estufa está no centro da crise climática que levou países a adotarem o compromisso, no Acordo de Paris, de de estabilizar o aquecimento da Terra em 1,5°C neste século. “A janela para que isso ocorra, segundo o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), é estreita: o mundo inteiro precisaria derrubar suas emissões em 7,6% ao ano todos os anos entre 2021 e 2030“, alertam os especialistas do SEEG.

As promessas mais atualizadas dos governos para reduzir as emissões de gases poluentes até 2030 ainda não são suficientes para salvar o planeta de um aquecimento considerado catastrófico

Mais emissões na pandemia

O setor de mudança de uso da terra, representado em sua maior parte pelo desmatamento da Amazônia e no Cerrada, foi a principal fonte de emissão de gases do Brasil em 2020. Segundo o relatório do SEEG, se a Amazônia fosse um país, seria o nono maior emissor do mundo, à frente da Alemanha. Somado ao Cerrado, os dois biomas emitem mais que o Irã e seriam o oitavo emissor do mundo.

“Dois mil e vinte foi o ano que tivemos as maiores emissões do setor em 11 anos, um reflexo claro do desmonte em curso da política ambiental, que tem favorecido a retomada das altas taxas de desmatamento”, afirma Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), organização responsável pelo cálculo das emissões do setor no SEEG.

Os cientistas do SEEG explicam que a atividade rural ainda responde pela imensa maioria das emissões do Brasil. “Quando se soma o total emitido por mudança de uso da terra e as emissões totais da agropecuária, a maior parte delas do rebanho bovino, conclui-se que quase três quartos (74%) das emissões nacionais estão direta ou indiretamente ligadas à produção rural e à especulação com terras“, afirmam.

A agropecuária teve a maior elevação desde 2010. “A crise econômica diminuiu o consumo de carne e isso aumentou em 2,6 milhões de cabeças o rebanho nacional, o que, por sua vez, aumentou também as emissões de metano por fermentação entérica”, diz o documento.

“Embora seja visível o crescimento da implementação de técnicas de agricultura de baixo carbono no Brasil, inclusive com o cumprimento de grande parte das metas do Plano ABC, esse crescimento ainda está aquém dos patamares necessários para que possamos ver a trajetória de emissões do setor ser modificada e demonstrar o real potencial que o Brasil possui em se ter uma agropecuária sustentável e de baixo carbono”, explica Renata Potenza, coordenadora de projetos do Imaflora, organização responsável pelo cálculo das emissões da agropecuária.

Já o setor de energia registrou queda nas emissões de gases e retornou aos patamares de 2011. Segundo os especialistas, o número reflete a pandemia do coronavírus, que nos primeiros meses reduziu o transporte de passageiros, a produção da indústria e a geração de eletricidade.

Metas da PNMC

O SEEG também avaliou o cumprimento da lei da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC). O Brasil cumpriu a meta, mas em seu limite menos ambicioso, com 1% de “folga”.

Para os especialistas, há algumas ressalvas. Tasso Azevedo, coordenador do SEEG, lembra que a principal meta da PNMC, a redução de 80% na taxa de devastação da Amazônia, ficou bem longe de ser cumprida: para 2020 era de 3.925 km2 e o desmate ficou em 10.851 km2, 176% maior.

“Em relação a 2010, quando foi definida a meta da PNMC, as emissões brasileiras aumentaram 23%. Continuamos com o desmatamento dominando nossas emissões brutas e, o pior, com tendência de alta nas emissões no ano em que deveríamos começar a cumprir as metas do Acordo de Paris”, alerta Azevedo.

Por g1


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