SÃO PAULO E BRASÍLIA – Morreu nesta segunda-feira, 11, o ex-ministro da Fazenda Eduardo Guardia, ao 56 anos, em decorrência de um câncer cerebral, descoberto no ano passado. Guardia estava no comando da gestora do BTG Pactual desde fevereiro de 2019.
Conhecido por seu perfil técnico, entre os mais próximos é lembrado por sua gentileza, seriedade e pelo seu bom humor. Deixa sua esposa, a pedagoga Maria Lucia, com quem foi casado por 30 anos.
Formado em economia pela PUC de São Paulo, defendeu, em seu mestrado na Unicamp, o trabalho com o título “Orçamento Público e Política Fiscal”, assunto em que sempre foi reconhecido pelo amplo domínio. Seu doutorado foi obtido na Fipe/USP, seguindo o mesmo tema que marcou. No início de sua carreira, voltou à PUC para ser professor.
Na vida pessoal, seus grandes hobbies estavam no esporte. Palmeirense, praticava corrida, remo e equitação. No lazer, não abria mão do vinho e uísque. Era também um ávido leitor.
Edu para os amigos, Guardia sempre foi muito comprometido com tudo o que fazia. Sua paixão pela corrida, por exemplo, veio com o objetivo de perda de peso. Com tendência a engordar, levou muito a sério o projeto, indo correr sempre no Parque Villa Lobos, já que morava perto do local. Treinou e, quando se sentiu preparado, se inscreveu em uma das maratonas mais famosas do planeta, de Nova York. Antes da largada, contudo, ao pular uma barreira, torceu e quebrou o pé – mas terminou a corrida, com o pé inchado.
Entre 1999 e 2000 foi secretário da Fazenda do governo do Estado de São Paulo. No início de 2002 foi secretário adjunto do Tesouro Nacional, onde depois foi nomeado secretário. Foi ainda secretário-adjunto de Política Fiscal do Ministério da Fazenda.
Sua experiência na iniciativa privada, antes do BTG, foi na antiga BM&FBovespa, onde ficou de 2010 a 2016. Inicialmente ocupou o cargo de diretor executivo de Relações com Investidores e Produtos e, depois, concentrou o desenvolvimento de produtos na Bolsa. Esteve à frente, por exemplo, do trabalho de aumentar a gama de produtos dos fundos de índices (ETFs) e BDRs (títulos de ações estrangeiras negociadas localmente) na Bolsa brasileira, produtos que hoje têm grande tração. Antes de deixar a companhia, trabalhou de perto e teve papel fundamental no projeto de fusão com a Cetip. Deixou o cargo para assumir o cargo de secretário executivo do Ministério da Fazenda, quando Henrique Meirelles assumiu como ministro no início do governo de Michel Temer.
Em abril de 2018, após Meirelles deixar o ministério para poder disputar as eleições presidenciais, Guardia assumiu o Ministério da Fazenda até o início de 2019, quando passou o cargo a Paulo Guedes, já no início do governo de Jair Bolsonaro. Logo depois anunciou sua ida para o BTG Pactual, como presidente da gestora do banco de André Esteves.
Repercussão
A morte do ex-ministro da Fazenda foi lamentada por colegas economistas de todo o País, que ressaltam o profissionalismo e dedicação de Guardia. “É uma enorme perda para a família, os amigos e para o Brasil. O Eduardo foi não apenas um exemplar homem público mas um ser humano excepcional”, disse ao Estadão/Broadcast o ex-ministro Henrique Meirelles. Guardia foi secretário-executivo na gestão de Meirelles no ministério da Fazenda.
“O Brasil deve muito ao Eduardo, que teve várias passagens muito importantes no governo, na última como ministro. Grandes reformas aconteceram por conta do trabalho dele. É profissionalmente impecável e pessoalmente um amigo muito querido”, afirmou o ex-diretor do Banco Central e sócio da Mauá Capital Luiz Fernando Figueiredo. “Da minha época do governo, a melhor experiência que tive com secretários do Tesouro foi quando ele assumiu. Foi uma parceria maravilhosa”, completou.
Ministro do Planejamento contemporâneo de Guardia, o hoje secretário especial de Tesouro e Orçamento Esteves Colnago afirmou ao Estadão/Broadcast que o economista era uma pessoa “absolutamente comprometida com o futuro do País e que sabia valorizar e considerar as posições amadurecidas nas discussões no Governo”, disse, completando: “Tinha muita admiração por ele”.
O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, também ressaltou, no Twitter, que conviveu com Guardia assim que assumiu a SPE, “oportunidade em que pude notar sua gentileza e inteligência afiada. Liderou um dos melhores times econômicos da história”.
O Ministério da Economia divulgou nota de pesar sobre a morte do ex-ministro da Fazenda. Além de ter ocupado o cargo de chefe da equipe econômica em 2018. “Durante sua trajetória pública, a atuação de Guardia foi fundamental na construção de soluções importantes para a economia brasileira. O ex-ministro sempre se notabilizou pelo trabalho incansável, a gentileza no trato e o permanente espírito público, inspirando todas as equipes que liderou”, destacou o Ministério.
A nota de pesar afirma ainda que ministro Paulo Guedes relembrou a capacidade de diálogo de Guardia, que contribuiu de forma relevante para a troca de informações institucionais no período de transição de governo no fim de 2018. “Neste momento de dor, o ministro Guedes e os servidores do Ministério da Economia manifestam respeito e solidariedade aos familiares e amigos de Eduardo Guardia”, completa a nota.
A B3 também lamentou, em nota, a morte de Eduardo Guardia, onde economista trabalhou entre 2010 e 2016. “Com a morte de Eduardo Guardia, a B3 se despede de um líder que instilou os melhores valores, que foi exemplo e nos ajudou a construir a empresa que somos. Hoje, muitos de nós também perdemos um amigo, um grande amigo. Nosso país se despede de um homem público que trabalhou e acreditou sempre, em diferentes momentos de sua vida, que nosso papel como cidadãos é tomar as decisões que fazem o Brasil melhor. Eduardo Guardia fará falta”, expressou a B3 em nota.
A Instituição Fiscal Indepentente (IFI), vinculada ao Senado, também prestou homenagens ao ex-ministro em mensagem publicada no Twitter: “Lamentamos o falecimento do economista Eduardo Guardia, ex-ministro da Fazenda. Guardia serviu ao país, nos diversos cargos que ocupou, de maneira sóbria, técnica e com espírito público. Fica aqui a nossa homenagem aos familiares e amigos do Eduardo”.
Fernanda Guimarães, Bárbara Nascimento e Eduardo Rodrigues- Estadão