Na noite entre 12 e 13 de agosto de 1961, uma barreira nasceu no coração da cidade de Berlim, separando a parte ocidental da parte oriental, ocupada pela União Soviética. Esta divisão durou 28 anos, até o fim da Guerra Fria. Hoje, comemoram-se as vítimas que não conseguiram atravessar a “faixa da morte”.
A “barreira protetora antifascista”, chamada “Antifaschistischer Schutzwall”, era uma cerca de arame farpado, surgida na noite entre 12 e 13 de agosto de 1961, para separar o setor de Berlim Oriental, controlado pela União Soviética e o Oriental, controlado pelos Estados Unidos, Reino Unido e França, após o fim da II Guerra Mundial.
Assim, há sessenta anos, nascia o Muro de Berlim, o símbolo mais tangível da separação do mundo em dois blocos, durante a Guerra Fria, que, por 28 anos, representou uma cicatriz viva no coração da grande cidade alemã.
Um povo dividido
A Alemanha, ocupada pelos aliados, em 1945, e o regime nazista, derrotado, em 1949, já era dividida em República Federal Alemã (BRD), a oeste, e República Democrática Alemã (DDR), ao leste.
A parte ocidental de Berlim era um enclave ocidental na capital da DDR. Nos anos anteriores, a tentativa da URSS, de remover as outras potências da cidade, havia falido: o bloco de Berlim, contornado a oeste, com uma ponte aérea, durou mais de um ano, entre 1948 e 1949.
A “faixa da morte”
O arame farpado, apresentado pelos comunistas como uma estrutura defensiva, para evitar invasões, em 15 de agosto de 1961 já havia sido substituído por cimento armado e pedra, para evitar o êxodo dos berlinenses do Leste para Oeste. Estima-se que, de 1948 a 1961, cerca de dois milhões e meio de alemães passaram pelos territórios administrados pelas potências ocidentais; mas, nem mesmo o muro, cuja extensão máxima media 156 quilômetros e 3,6 metros de altura, conseguiu deter os cinco mil berlinenses, que sobreviveram à travessia. Na verdade, as vítimas foram entre 192 e 239, – os feridos não especificados – entre as pessoas que não conseguiram cruzar a “faixa da morte”: mais de cem quilômetros de vala antitanque, cerca de 300 torres de vigia, com atiradores armados, 20 bunkers e uma patrulha noturna rodoviária, bem maior que o próprio muro.
Comemorações na Alemanha
Entre as vítimas encontra-se também Peter Fechter, 18 anos, baleado, em 17 de agosto de 1962, durante sua tentativa de fuga ao cruzar a “faixa da morte”. No lugar da sua morte, o Prefeito de Berlim, Micheal Mueller, junto com o Presidente federal alemão, Frank-Walter Steinmeir, depositaram uma coroa de flores. Esta é uma das tantas comemorações destes dias, além de um minuto de silêncio, no Memorial do Muro; outra comemoração será na torre de vigia, na fronteira no Estado de Brandemburgo, por todos os que perderam a vida na travessia da Cortina de Ferro.
“Trata-se de um acontecimento decisivo para a nossa cidade e para todo o país”, disse o Prefeito Mueller, ao recordar “o sofrimento humano, causado pela divisão da cidade e do país, com a separação de famílias, amigos e conhecidos e a perda de oportunidades de viajar”.
Um símbolo cruel
Durante um encontro com os Membros do Corpo Diplomático, junto à Santa Sé, pela passagem do Ano Novo de 2020, o Papa Francisco disse: “O Muro de Berlim permanece emblemático em uma cultura de divisão, porque separa as pessoas e abre alas ao extremismo e a violência”. Na ocasião, comemorava-se o trigésimo aniversário da queda do muro, “que nos colocava diante de um dos símbolos mais cruéis da recente história do continente, como recordação de quanto seja fácil construir barreiras”.
Precisamos de pontes, não de muros
“Construir pontes, não muros”, é um dos temas recorrentes do Pontificado de Francisco, que sempre aproveitou para ressaltar: “Às barreiras do ódio, preferimos pontes de reconciliação e de solidariedade; e ao que nos separa, preferimos o que nos aproxima”.
Após o encontro histórico de Abu Dhabi, em 31 de março de 2019, o Papa conversou com os jornalistas, no voo de retorno a Roma, aos quais disse: “Precisamos de pontes e sentimos muito quando tantas pessoas preferem construir muros, porque os que constroem muros, acabarão prisioneiros da sua construção. Ao invés, quem constrói pontes, percorrerá um longo caminho. As pontes servem para a comunicação humana; os muros são contra a comunicação e a favor do isolamento; os que os constroem, serão seus prisioneiros”.
Ao regressar da sua Viagem Apostólica ao México, em 17 de fevereiro de 2016, Francisco disse peremptoriamente: “Quem só pensa em construir muros e não em construir pontes, não é cristão”.
A oração silenciosa do Papa em Belém
Os muros não são apenas símbolos de uma cultura de separação e ódio das pessoas, mas também lugares físicos de sofrimento: a fronteira entre Estados Unidos e México; a de Ceuta e Melilla e o que divide Israel e o Estado palestino. Precisamente em Belém, em 25 de maio de 2014, ao dirigir-se à Praça da Manjedoura, o Papa Francisco desceu do carro, aproximou-se do muro, apoiou a sua mão e deteve-se em oração por alguns minutos.
Fonte: VaticanNews