Se não ganhou as prévias do PSDB para candidato do partido a presidente da República, por que Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, imagina que possa derrotar Lula e Bolsonaro em outubro próximo? Na primeira pesquisa de intenção de voto que testou seu nome, a da Quaest-Genial, Leite aparece atrás de João Doria, governador de São Paulo, com 1%.
Ah, a vaidade, pecado predileto do Diabo encarnado pelo ator Al Pacino no filme “Advogado do Diabo”. Gilberto Kassab, presidente do PSD, é o melhor CEO de partidos desde que fundou o seu, que não é de direita, nem de esquerda, nem de centro, segundo ele. Kassab precisa de um candidato próprio para que o PSD não se divida antes do primeiro turno entre lulistas e bolsonaristas.
A primeira aposta de Kassab foi Rodrigo Pacheco, que trocou o extinto DEM pelo PSD, mas que nunca disse que seria candidato a presidente. Como não disse e não quis, é candidato a mais um mandato de presidente do Senado. Então, Kassab foi atrás de Leite, disse-lhe o que ele gostaria de ouvir, e deixou-o em êxtase. Nos próximos dias, Leite finalmente decidirá o seu destino.
É bom que Leite se recorde do que aconteceu em 2016 em São Paulo com o tucano Angelo Andrea Matarazzo, sobrinho-neto do conde Francesco Matarazzo, ex-embaixador do Brasil em Roma, ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso, um homem gentil e de fino trato. Derrotado por Doria nas prévias do PSDB para prefeito, ele ouviu o canto da sereia na voz de Kassab.
O mavioso canto dizia que se Matarazzo fosse para o PSD seria candidato a prefeito e poderia ser eleito. Enternecido, Matarazzo foi e acabou como candidato a vice na chapa encabeçada por Marta Suplicy (PMDB), com quem o PSD se compôs. Marta e Matarazzo não conseguiram ir para o segundo turno, ficando em 4º lugar, com pouco mais de 10% do total de votos. Kassab não fez por mal.
A política, como as nuvens, muda de forma de um momento para o outro. Leite deve saber disso, embora seja muito jovem. A eleição presidencial está cada vez mais polarizada, e as chances de sucesso de um candidato nem Lula, nem Bolsonaro parecem remotas. O ex-juiz Sergio Moro, por exemplo, entrou em cena tomando votos de Bolsonaro. Agora, começa a devolvê-los.
Ciro Gomes, à sombra de Lula, nem cresce pela esquerda nem pela direita. Doria faz planos de que crescerá a partir de abril quando começar a percorrer o país como candidato, mas é melhor ver para crer. Simone Tebet patina enquanto seu partido, o MDB, parte-se entre Lula e Bolsonaro. Kassab não esconde que no segundo turno apoiará Lula para derrotar Bolsonaro à falta de opção.
POR RICARDO NOBLAT- METRÓPOLES