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Mais de mil economistas assinam manifesto pró-Lula e ‘contra a barbárie’

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Documento faz diversas críticas à política econômica do governo Bolsonaro e defende eleição do petista no primeiro turno

Encabeçado por nomes como Luiz Gonzaga Belluzzo, Tânia Bacelar e Luiz Carlos Bresser-Pereira, um manifesto “pela democracia e contra a barbárie” foi assinado por mais de 1.000 economistas, com o apoio à eleição de Lula e Geraldo Alckmin já no primeiro turno.

“Nós economistas, que subscrevemos este manifesto, temos clareza de que o retorno do Brasil a uma trajetória de progresso civilizatório passa, necessariamente, pela eleição da chapa Lula-Alckmin no primeiro turno das eleições gerais”, apontam os signatários.

O texto traz uma série de críticas à política econômica adotada pelo governo Bolsonaro.

Leia o manifesto, na íntegra, a seguir:

“O Brasil está mergulhado em uma crise profunda, com múltiplas dimensões. Na economia, trata-se de uma estagnação sem precedentes em nossa história, um enorme retrocesso. Temos um processo inflacionário que impõe pesadas perdas aos mais pobres. O governo de Jair Bolsonaro implantou um projeto autodestrutivo, que aprofundou a regressão de nossa estrutura produtiva, privilegiou ainda mais o rentismo e os grandes interesses financeiros, e nos levou às portas da barbárie, que assumiu a forma de desmantelamento do arremedo do Estado Nacional Soberano construído a duras penas. As instituições foram enfraquecidas, os pilares do Estado Democrático de Direito foram ameaçados”, diz o primeiro parágrafo.

O presidente, em vários momentos, tentou viabilizar um golpe. Buscou intimidar o Supremo Tribunal Federal (STF), acenou com a possibilidade de questionar os resultados das eleições em 2022 no intuito de negar aos brasileiros e brasileiras o direito de eleger seus representantes, ao mesmo tempo em que tenta persistentemente violar a liberdade de expressão daqueles contrários ao seu projeto. Além de fragilizar a sociedade brasileira, as atitudes de Jair Bolsonaro geram instabilidade política, tornam o país um pária na comunidade internacional e afetam negativamente a economia.

O desmonte da economia nacional é notório. Os investimentos públicos foram travados, reduzidos ao seu menor valor. Políticas públicas voltadas para educação, ciência e tecnologia, preservação ambiental e de garantia dos direitos humanos foram abandonadas. Os programas de transferência de renda foram instrumentalizados para fins eleitorais e fragilizados, e não alcançam toda a população que deles necessita.

A política de valorização do salário mínimo iniciada na segunda metade dos anos 90, e ampliada a partir de 2003, não só foi abandonada, como, pela primeira vez em 25 anos, o Presidente da República irá entregar ao final do seu mandato um salário mínimo inferior, em termos reais, ao que recebeu no momento da sua posse. No mercado de trabalho, aumenta o número dos sem carteira, dos trabalhadores autônomos sem formalização, dos empregados em jornada de trabalho parcial, daqueles com contrato por tarefa ou empreitada, além dos trabalhadores que têm seu trabalho e sua renda comandada por aplicativos, que vendem a força de trabalho ao menor preço.

A saúde foi fortemente debilitada, em um dos momentos em que mais precisamos do setor em nossa história. O governo Bolsonaro eximiu-se da responsabilidade de coordenação das ações e desprezou as indicações da ciência para minorar os efeitos da pandemia de Covid-19. Como resultado, tivemos mais de 10% das mortes mundiais, sendo que representamos 2,7% da população do planeta. Os danos para o futuro do país são incomensuráveis. A tragédia da escalada do desemprego, combinada com a redução da renda média dos trabalhadores, coloca no horizonte o risco de uma pandemia de fome ao lado de uma pandemia sanitária ainda não debelada.

A política de Bolsonaro visa desregulamentar as atividades econômicas, dar autonomia para que as empresas privadas, muitas delas oligopólios, se autorregulem e se vejam livres das leis de proteção socioambiental. Visa ainda privatizar as empresas públicas, enfraquecer o que ainda resta de bancos públicos, vender os ativos do Estado na bacia das almas, reduzir os direitos dos trabalhadores, privatizar e/ou terceirizar a educação e a saúde em todas as etapas e condenar o País ao atraso e à subordinação aos interesses do capital externo.

A frente de expansão do capitalismo dependente brasileiro passa a girar em torno do agronegócio, em especial o complexo de grãos e carnes, estimulados pela dinâmica internacional, do extrativismo mineral com tudo que lhe é inerente: devastação ambiental (inclusive pelo uso intensivo de agrotóxicos), social e cultural, com um conflito permanente em torno da ocupação e uso da terra. Uma economia neocolonial, baseada na produção de mercadorias para o mercado internacional, e uma base produtiva que se reprimariza e se desindustrializa.

Na área externa, a política do governo é de renúncia à soberania nacional, abertura indiscriminada ao capital estrangeiro e às importações, adesão a padrões de política da OCDE que não nos servem,ne que podem contribuir para destruir o que resta da indústria nacional, esvaziar acordos regionais como o Mercosul e para um comportamento irresponsável em relação ao papel do país no enfrentamento às mudanças climáticas.

República Federativa do Brasil, 13 de junho de 2022.

Revista Veja


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