Apesar de desistência do senador petista, políticos do PSD não atribuem ao gesto uma aproximação com candidatura de Lula à Presidência
A corrida pelo governo na Bahia teve nesta quinta-feira, 25, um lance decisivo. O senador Jaques Wagner (PT), que governou o estado entre 2007 e 2014, anunciou a aliados que não será candidato ao Executivo estadual na eleição de outubro. Com a decisão, o caminho fica aberto para que o senador Otto Alencar (PSD) troque a disputa à reeleição por uma candidatura a governador. Alencar é o nome mais forte eleitoralmente e visto como candidato natural da tríade PT-PSD-PP, núcleo da base aliada do governador petista Rui Costa, mas, segundo aliados, ainda não bateu o martelo.
Caso o senador pessedista confirme as expectativas e entre de fato na disputa, a chapa majoritária (governador, vice e senador) do grupo governista deve ser completa por petistas e pepistas. Bem avaliado entre os baianos, Rui Costa deve disputar o Senado, o que o levará a renunciar ao governo em abril. O vice-governador, João Leão (PP), completará a gestão até o fim de 2022 e outro nome indicado por seu partido ocuparia a vaga de vice para o próximo mandato. A disputa de 2022 será a mais dura ao grupo que governa o estado há dezesseis anos, tendo como principal adversário o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), líder das pesquisas.
Eleito duas vezes governador e com mais quatro anos de mandato no Senado, aos 70 anos, Jaques Wagner não vinha demonstrando entusiasmo em concorrer novamente. A possibilidade de abrir mão da cabeça de chapa foi colocada na mesa por ele na semana passada, em uma reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo, que incluiu também Rui Costa e Otto Alencar. A decisão de Costa em concorrer ao Senado também contribuiu para o recuo, uma vez que o PT não poderia ocupar duas posições na chapa majoritária, sob risco de quebrar a aliança.
“Wagner, em prol da união do grupo, retirou a candidatura. Otto está ouvindo os partidos da base aliada para decidir essa nova empreitada e bater o martelo depois do Carnaval”, diz o senador Ângelo Coronel (PSD-BA).
Entre políticos baianos alinhados ao Palácio de Ondina, há a avaliação de que uma candidatura de Otto Alencar tem potencial de tirar votos de ACM Neto, sendo ele egresso do carlismo, grupo político ligado ao ex-senador Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), e contaria com um exército de prefeitos: o PSD é a sigla que mais elegeu prefeitos na Bahia em 2020, 108. Já o DEM, de Neto, venceu em nove das trinta maiores cidades, incluindo Salvador.
A retirada da candidatura de Jaques em benefício de Otto Alencar também funcionaria como um gesto de Lula e o PT ao PSD do ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro Gilberto Kassab. O petista tenta atrair o partido à sua candidatura ainda no primeiro turno, movimento que seria decisivo em sua caminhada ao centro, já iniciada com a muito provável escolha do ex-governador paulista Geraldo Alckmin como vice. Kassab, no entanto, vinha dizendo a pessoas próximas que o tabuleiro baiano não impacta os rumos do PSD. Embora tenha recebido de Alencar a sinalização de que seria candidato ao Senado, o cacique não tem resistência a uma candidatura dele ao Executivo estadual.
Gilberto Kassab repete desde o início de 2021 que lançará candidato próprio ao Palácio do Planalto, uma forma de manter neutralidade e evitar debandada interna diante da existência de grupos mais à esquerda e mais à direita em suas fileiras. Kassab defende a candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), que parece não se empolgar com a ideia. Derrotado por João Doria nas prévias do PSDB, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, tem convite para se filiar ao PSD e ser o candidato.
POR JOÃO PEDROSO DE CAMPOS-VEJA