PGR toma decisões que indicam que ele não será mais totalmente favorável ao presidente
Augusto Aras está mudado. O Procurador-Geral da República, conhecido por ignorar os absurdos cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro, tomou duas decisões contra o governo.
A primeira delas, revelada pela coluna Lauro Jardim, do jornal O Globo, foi a recomendação para manter o inquérito que investiga a suspeita de vazamento de documentos sigilosos da Polícia Federal a respeito de ataque hacker feito ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No ano passado, a defesa de Bolsonaro pediu reconsideração sobre a abertura do inquérito. Aras sugeriu que o pedido fosse rejeitado e recomendou que o relator, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, abrisse o inquérito. Resultado: o processo foi aberto e Bolsonaro inclusive desafiou a Justiça ao se recusar a dar seu depoimento presencial à PF.
A segunda decisão foi tomada pela Procuradoria-Geral da República contra o ministro da Educação, Milton Ribeiro. A PGR denunciou o ministro ao STF pelo crime de homofobia por insinuar que adolescentes homossexuais vêm de famílias desajustadas.
Embora a denúncia tenha sido assinada pelo vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, é claro que Aras sabe do processo e deixou que ele fosse enviado ao STF.
Os dois posicionamentos falam por si só. Aras está diferente. A interlocutores ele nega, mas há uma frustração com a nomeação de André Mendonça para o STF.
Esses interlocutores acreditam que o PGR está preso numa armadilha ideológica. Inicialmente, não quis aceitar processos contra o presidente porque não viu indícios suficientes para agir e não queria ser usado como instrumento da oposição ou da imprensa.
Agora, mesmo que tenha indícios, ele acredita que precisa ter cautela para não parecer que está agindo contra Bolsonaro por represália por não ter sido indicado ao STF. Aras deve manter a cautela de sempre nas ações contra o presidente.
O mesmo Aras que se fez de desentendido e rejeitou uma ação do partido Rede Sustentabilidade que tentava impedir Bolsonaro de atacar ou incentivar ataques à imprensa, alegando que não foram esclarecidos os atos que o presidente teria cometido, agora toma decisões que certamente estão deixando Bolsonaro insatisfeito.
É possível que a mudança também esteja acontecendo porque as chances de reeleição de Bolsonaro diminuem a cada dia. Ninguém quer permanecer ao lado de alguém que nega realidades, que perde popularidade dia após dia e que continua atacando todos que não concordam com ele.
POR MATHEUS LEITÃO- VEJA